quinta-feira, 22 de maio de 2014

Destination Anywhere.

Chegou em casa cansada, havia tido um daqueles dias em que nada dá certo e o mundo parece conspirar contra a gente. Já ia desligar o MP3 quando os acordes da música começaram. Era o que ela precisava.

Manteve os fones nos ouvidos e, sem pensar muito para não perder a coragem, jogou a bolsa no sofá enquanto corria para o quarto. Lá, puxou a mochila detonada da prateleira, substituiu o salto que destruía seus pés pelo All Star batido e desbotado, abriu o roupeiro e começou a jogar as roupas dentro: jeans, blusa, pijama, meias e lingerie. No banheiro, pegou somente os itens indispensáveis que ainda não estavam na necessaire e os jogou na mochila, rezando para não ter deixado o frasco de shampoo mal fechado.

Na sala, tirou a carteira e necessaire da bolsa, atirando-as no outro bolso da mochila enquanto abria a gaveta e resgatava o passaporte nunca usado. Pegou a mochila, apagou as luzes e, enquanto trancava a porta, sorriu, ouvindo as últimas as palavras da canção

"Left or right, I don't care
Maybe we'll just disappear like the sun
Come on, come on, come on"


sábado, 6 de julho de 2013

Sobre Ideias

Existem ideias que ficam rondando a mente. Elas não tem forma, cor, palavras ou sons que as exprimam, mas elas existem, ali, em um canto afastado, esperando o momento para sair. Durante esse período de incubação, eu as odeio.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Prólogo


Elian foi tomado pela adrenalina que antecede a batalha. Quando se transformasse me lobo, esse sentimento seria substituído pela urgência da morte, de sentir na boca os ossos do inimigo se partindo, a carne se rasgando e o sangue, quente e confortador, escorrendo por sua garganta.

Infelizmente, não eram inimigos humanos. A menina, havia muito tempo, os proibira de matar seus semelhantes. Sentia falta, é claro, o homem era sua presa mais saborosa (o olhar, a expressão e o cheiro de medo que exalava ante um predador eram inebriantes), mas não iria desobedecê-la, mais importante: não podia desobedecê-la mesmo que desejasse. Ela era uma parte de sua própria alma, sua raça fora concebida para protegê-la.

Tomado pela ternura, olhou para o atual receptáculo da alma que anulava seu livre arbítrio. Como sempre acontecia em momentos assim, Caterina estava séria, perdida em pensamentos, talvez rezando para o Deus de sua cultura, para seu pai imortal ou seu padrinho guerreiro. Aos lados dela, os irmãos da garota tinham expressões parecidas com a dela, sérios e silenciosos, até que Pietro quebrou o silêncio:

- Estão vindo. Preparem-se para atacar ao meu sinal.

- Elian – ele virou os rosto em direção à Caterina e encontrou seus olhos castanhos, sempre tão doces, inexpressivos – se as coisas não saírem conforme o planejado e eu não voltar, agradeça aos outros lobos pelo serviço prestado e lealdade. E obrigada por estar sempre ao meu lado.

Elian somente sorriu. Era sempre o mesmo discurso e ela sempre voltava. Pietro deu o sinal, Elian se transformou. Correndo atrás de sua senhora pensou que nada mais importava. A batalha contra os lacaios de Cronos começara.

sábado, 3 de novembro de 2012

Em Busca do Santo Graal

Está escrito, em algum lugar, que o amor entre duas pessoas deveria ser tão natural e simples quanto respirar. Um processo que simplesmente é realizado do princípio ao fim por instinto, sem raciocinar.

Mas qual a lógica ou veracidade dessa filosofia se tudo mais na vida só tem valor real quando conquistado com esforço e trabalho? Talvez seja por essa sensação de dever cumprido após a batalha que Hollywood, novelistas, redatores, autores e roteiristas tenham tanto apreço pela história dos parceiros que trabalharam arduamente para concretizar seu amor. Talvez seja o oposto e Hollywood, novelistas, redatores, autores e roteiristas só tenham apreço pelos amores épicos porque as pessoas acreditam que, a não ser que se sacrifiquem até o limite das suas forças, autoestima e amor próprio, o sentimento advindo de outrem não tenha valor real.

Seja como for, a realidade é que, salvo excessões, o sentimento oferecido gratuitamente, sem luta, drama, lágrimas, sangue e suor não é valorizado, transformando a busca pelo verdadeiro amor em uma cruzada digna de comparação com aquelas travadas em busca do Santo Graal, lendário cálice utilizado por Jesus Cristo durante a Santa Ceia.

Entretanto, em suas cruzadas particulares, ninguém parece recordar que, após séculos de guerras sangrentas e explorações no Oriente, o Graal continua afastado dos olhos da humanidade em geral, perdido em alguma cripta a muito esquecida ou mantido trancado no cofre de algum colecionador que não tem o mínimo interesse em dividir o conhecimento que possui com seus semelhantes. Outro ponto importante, menos fantasioso e mais palpável, é que manter um relacionamento duradouro é, por si só, uma cruzada das mais difíceis.

Rotina, tentações e diferenças de gostos, crenças e personalidades apresentadas ao longo da convivência entre duas pessoas são obstáculos a serem superados, se não diariamente, constantemente. E nessa era de tecnologia, individualismo e imediatismo, em que é mais simples substituir a descobrir qual o problema e tentar consertá-lo, ter um relacionamento que dure anos é cada vez mais difícil. O que dizer de um que dure o suficiente para ser comparado com uma vida?! Pode ser equiparado a uma nova cruzada pelo Santo Graal, digna das realizadas durante a Idade Média e relatadas tão amplamente nas lendas.

Se é assim, por que não guardar o ímpeto heróico para a manutenção do relacionamento? Por que não valorizar um sentimento construído, baseado inicialmente em atração e interesse mútuos, que acontece naturalmente e não exige sacrifícios em prol da conquista de alguém que não demonstra sentir o mesmo? O prêmio com o qual o templário que vai empreende-la será contemplado parece mais justo e a jornada, tão árdua quanto a primeira.


domingo, 10 de junho de 2012


Eles assistiam ao show juntos e ela não parecia gostar muito da banda. Estava conversando absorta com a amiga deles e parecia distante aquela noite, não havia feito nenhuma das brincadeiras habituais entre os dois e nenhum dos gestos de carinho que, normalmente, lhe davam confiança.

Ele era tímido, fechado, mas com ela conseguia se abrir um pouco já que não tinha como ficar calado com toda aquela tagarelice e as constantes implicâncias que ela fazia só para vê-lo sorrir e implicar de volta, além disso, ela estava sempre sorrindo, algumas vezes de um jeito doce, outras de uma forma travessa.

Mas não essa noite e, mesmo querendo, ele não sabia como quebrar o gelo. Resolveu arriscar.

- Gosta da banda? - perguntou tocando a mão dela.
- De algumas músicas, mas em especial dessa... - ela respondeu, apertando os dedos dele quando ouviu os acordes da música seguinte soarem.

Ele sentiu a mão dela deslizar e quando olhou para baixo, viu os dedos dela se entralaçando nos seus, de uma forma tão típica dela. Voltou a erguer os olhos e percebeu que ela estava novamente com o rosto virado em direção ao palco, de olhos fechados, cantando os mesmos versos que o vocalista :

"...oh there she goes
same old game that never ends..."

Outro comportamento inesperado. Ficou observando o rosto dela, a entrega tranquila e sentindo a pressão da mão dela contra a sua. Naquele instante parecia que nada mais existia no mundo para ela.

Nos acordes finais, ela abriu aqueles lindos olhos negros, olhou para ele, dando-lhe o sorriso travesso que ele tão bem conhecia, aproximou sua boca da dele, cantando com o vocalista.

"...Finally"

Ela murmurou quando seus lábios se encontraram.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ela foi para a festa porque havia prometido. Porque não queria deixar a amiga no vácuo. De novo. Mas se sentia sozinha, com o coração despedaçado. Não queria mais sentir. Não queria mais sorrir. Só queria sumir.

Ele estava perto do bar. De cabeça baixa. Pensando, como sempre. Se perguntando, como já era comum. Por que aquilo tinha acontecido, afinal? Ele sofria. De novo. Parecia azar demais para um homem só. Era isso, então. Iria se fechar, decidiu. Por tempo indeterminado. Não. Ainda era pouco. Até a proxima encarnação talvez fosse suficiente.

Chegou na festa com a amiga quebrada. Ela que se esforçava para parecer 'normal'. A amiga pensava no que fazer para ajudar. Tinha o coração apertado por vê-la daquele jeito. Se perdeu dela e foi espera-la no bar. Lá perto, encontrou o amigo partido. Ele se esforçava para esconder a dor. Conversaria com ele enquanto esperava por ela.

Ela viu a amiga parada perto do bar. A amiga conversava com alguém. Ela ficou com remorso pela possibilidade de atrapalhar algo, mas queria ir embora. Não aguentava mais. O dia fora cansativo. Ela estava prestes a se render. A começar a chorar.

Ele escutava a amiga. Pensava em ir embora. Pensava que aquela festa já tinha dado o que tinha pra dar. Ele começava a ficar aborrecido pois a amiga não se deixava enganar. A amiga sabia o que ele sentia e pensava. Ele viu a amiga olhar para a frente e sorrir. Por reflexo, ele olhou na mesma direção.

Os olhos deles se encontraram. Eles sorriram. Se apresentaram. A amiga os conhecia bem demais. Sabia o que aquilo poderia significar. Salvação para ela. Esperança para ele. Resolveu sair de fininho. Não iria longe. Queria ver o que aconteceria.

Eles conversavam. Ela gostou do sorriso doce dele. Ele gostou dos olhos brilhantes dela. Teve empatia. Teve química. Ela ofereceu a oportunidade. Ele aproveitou. Eles se beijaram.

Ela abriu os olhos, olhou nos dele e disse:

- Obrigada.

Ele ficou intrigado. Não esperava ouvir aquilo. Perguntou:

- Pelo quê?

O sorriso dela alargou. Respondeu:

- Por mostrar que ainda existe luz em mim.

Ele sorriu. Entendia o sentimento. Afinal, mesmo que só por uma noite, as trevas dele também foram apagadas.

domingo, 20 de novembro de 2011

Sobre o amor

Infelizmente - para mim - sou uma moça romântica. Daquelas que adora um filme ou livro água com açúcar, ouvir como casais apaixonados se conheceram e busca o amor perfeito. Não me entendam mal. sei que o amor perfeito como exposto na literatura ou dramaturgia-cinematográfica-hollywoodiana não existe, mas, como toda romântica incurável, não consigo deixar de acreditar que todos têm direito a sua história de amor perfeita, mesma que esta um dia venha a acabar.

Entretanto, não é fácil encontrar o amor e muito menos se entregar a ele quando este pode acontecer, somos tão desconfiados e cheios de defesa que por medo deixamos esse sentimento escapar entre os dedos, afinal ninguém quer ser feito de palhaço e muito menos sofrer. As pessoas sempre procuram por amor e felicidade, mas quando podem tê-los, preferem se esquivar e armar as defesas, deixando-os ir embora sem vivê-los.

Por isso, não pude deixar de refletir quando li o texto escrito pela minha amiga Sam e resolvi postá-lo aqui. Espero que gostem.   


"Sabe, hoje depois de 33 anos de vida, me dei conta de uma coisa muito, mas muito importante.
Amor é que nem orgasmo múltiplo, parece até lenda.
Alguns poucos felizardos vão sentir, outros vão passar perto e outros não vão nem sentir o cheiro.
Eu estou cheia de ver pessoas falando eu te amo, mas não demonstrarem com atitudes que sentem isso. 
Bom seria, se o amor de homem/mulher, mulher/mulher, homem/homem, ou seja, aquele amor carnal que as pessoas sentem umas pelas outras, fosse que nem o amor incondicional que temos por nossos filhos, nossos familiares, mesmo aqueles que sejam de coração, e por nossos amigos mais queridos.
Atitudes traduzem o amor 100% das vezes. E sim, podemos falhar, podemos errar, mas não é certo continuar errando, e achar que vamos resolver tudo com um: Desculpa, Eu te amo!
As pessoas não entendem que o amor também morre como tudo na vida... Amor também fica doente, e morre... E não ressucita, nem por tudo que há mais sagrado!!! Pode se transformar, mas jamais ressucita. Pode se transformar em carinho, piedade e até compaixão, mas jamais volta a ser amor.
Aprendi que quando a gente ama, a gente se preocupa em ver o bem daquela pessoa, e se sente mal quando ela está mal, e pior, se sente mal com a iminência de fazer mal àquela pessoa. Amar é altruísta, não é egoísta!
E não me venham com balela de amar a si antes de amar o outro. O que vale é amar a si, e ao próximo como a si mesmo. O que vale é fazer sacrifícios, e acordar todo dia com esperanças, e tendo certeza que mesmo longe, mesmo passando dificuldades, aquela pessoa tá perto de ti no teu coração.
Quando amarem, aproveitem, mas aproveitem mesmo, pois talvez aconteça apenas uma vez, talvez nem aconteça... mas quando acontecer lembrem-se que amar é o orgasmo múltiplo da alma!!! =)"